sábado, 13 de junho de 2015

a rainha ginga

"A Rainha Ginga" é o mais recente dos livros de José Eduardo Agualusa. Com os livros dele sempre temos a impressão inicial que sabemos do que se trata, mas a invenção e o tratamento literário que ele imprime nos romances inevitavelmente surpreende e conquista o mais rabugento dos leitores. Com "Rainha Ginga" não é diferente. Acompanhamos os sucessos de um personagem real, Nzinga Mbandi, que viveu seus bons oitenta anos, do final do século XVI até meados do século XVII, como importante chefe africana, governante dos reinos Ndongo e Matamba, no sudoeste da África, onde hoje está Angola. Agualusa faz narrador de sua história um jovem padre que emigra de Pernambuco a Angola e acaba tendo seu destino vinculado aos sucessos de Ginga. Na invenção de Agualusa Ginga é uma personagem controversa, que ora se alia aos portugueses, ora os combate; por vezes honra as tradições de seu tempo e povo, noutras tem a sabedoria prática de submeter-se a um inimigo mais poderoso sem perder a majestade. Ginga consegue fazer com que seu padre/tradutor (o narrador Francisco José da Santa Cruz) cruze o Atlântico para convencer os holandeses estabelecidos em Pernambuco a ajudarem-na a reconquistar a cidade de Luanda (que seria a capital original de seu reino - e hoje é a capital e cidade mais importante de Angola). Agualusa discute questões importantes: linguagem, escravidão, auto-determinação dos povos, religião, mitos quimbandas. Agualusa não cria um romance histórico completo, como, por exemplo, "Viva o povo brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro. Mas, a exemplo deste, é capaz de emular o quão diferente seria a geografia  e a história da África caso a invasão holandesa estimulada pela rainha Ginga tivesse tido sucesso. Os mundos possíveis fora da ficção são geralmente tristes e tediosos. "A Rainha Ginga" me parece um romance mais pretensioso porém é menos bem resolvido que o bom "Teoria geral do esquecimento", livro anterior de Agualusa onde ele conta os sucessos das guerras civis angolanas do século XX. De qualquer forma um leitor nunca deixa de aprender um bocado nos livros dele. E vamos em frente.
[início: 15/05/2015 - fim: 16/05/2015]
"A Rainha Ginga: E de como os africanos inventaram o mundo", José Eduardo Agualusa, Rio de Janeiro: editora Foz, 1a. edição (2015), brochura 14x23 cm., 240 págs., ISBN: 978-85-66023-22-0

Nenhum comentário: