terça-feira, 7 de agosto de 2012

máscaras venecianas

Curioso com os comentários de don Tailor Diniz sobre eventuais inspirações de seu "A superfície da sombra" sai a procura de um conto de Adolfo Bioy Casares. Encontrei "Máscaras venecianas" junto com "La sierva ajena" e os dois parecem mesmo funcionar bem em dupla. Em "Máscaras venecianas" se conta os sucessos de uma relação amorosa que esgota um sujeito, a ponto dele separar-se fisicamente de sua amada mas continuar enfeitiçado espiritualmente por ela. O desfecho da história se passa em Veneza, cidade sempre propícia a acolher narrativas onde beleza, história e mistério se fundem. Por acaso, em uma festa de carnaval, ele reencontra a mulher que amou um dia já casada com um grande amigo seu. Ao mesmo tempo que imagina a necessidade de voltar a se relacionar com ela, o narrador sabe o quão tóxico e perigoso é este amor. Seu instinto de preservação parece  previní-lo de mais aborrecimentos, mas há coisas sobre as quais nunca o instinto ou mesmo a razão poderão ter a palavra final. O leitor acompanha suas tribulações até o desfecho do conto - fantasioso, mas divertido, como costuma acontecer nas histórias de Bioy Casares. Já "La sierva ajena" é uma história mais elaborada, onde três narrativas se sucedem quase imperceptivelmente (um leitor relaxado corre o risco de perder boa parte da história). Nela o leitor sempre sabe estar sendo arrebatado pelo fantástico, pelo oculto e misterioso. Um sujeito é atraído para um relacionamento funesto (que o cega, não apenas metaforicamente), mas antes o leitor acompanha várias digressões sobre duplos, ritos iniciáticos africanos, labirintos, bibliotecas (aquele vasto material que Bioy Casares e Borges sempre utilizam para arrebatar seus leitores). São duas histórias de amor. Enquanto "Máscaras venecianas" foca a psicologia de um sujeito enamorado e fala das estratégias mentais que os enamorados costumam criar para justificar suas paixões, "La sierva ajena" fala em tom satírico das lendas urbanas que costumam ser criadas por terceiros (aqueles que não estão enamorados) para descrever o entedimento que eles têm sobre os atos daqueles que amam e sofrem por amor. Bioy Casares sabe lembrar que também há possibilidades suficiente cruéis no amor.
[início 29/07/2012 - fim 30/07/2012]
"Máscaras venecianas / La sierva ajena", Adolfo Bioy Casares, Madrid: Alianza editorial (Alianza Cien), 1a. edição (1994), brochura 10x15 cm, 96 págs. ISBN: 84-206-4634-2

Um comentário:

Thays disse...

Acabei de ler "Mascaras venecianas" na coletânea "Historias desaforadas". Achei engraçado o final fantasioso, que pra algumas gerações já não é tão imaginativo assim (principalmente após discussões surgidas pós "fabricação" da ovelha Dolly).
Impressão minha ou rolou algo à la "A invenção de Morel" no momento em que se utiliza da ciência pra sustentar um relacionamento amoroso?