segunda-feira, 11 de junho de 2012

vaya país

Neste livro estão reunidos dezoito textos do tipo que eu costumo chamar de "sociologia selvagem". São impressões de quem experimenta vividamente uma situação, mas que não têm rigor científico e/ou metodológico para serem realmente válidas como análise de uma cultura complexa. Claro, são gostosas de ler, já que todos gostamos de generalizar comportamentos e valores alheios após uma viagem qualquer. Cabe dizer que jornalistas costumam produzir livros assim às dúzias. Pois em "Vaya País" estão registradas exatamente as impressões de jornalistas que trabalham como correspondentes de imprensa na Espanha. O organizador é um suíço, homônimo de um grande cineasta, Werner Herzog, radicado em Madrid há mais de trinta anos. Os demais são cinco alemães (Peter Burghardt, Martin Dahms, Paul Ingendaay, Barbara Schwarwälder e Reiner Wandler); dois franceses (Martine Silber e Cécile Thibaud), dois holandeses (Gerrit Jan Hoek e Henk Boom) e dois ingleses (Elisabeth Nash e Edward Owen); e uma mexicana (Patricia Alvarado Mendoza), um português (Nuno Ribeiro), um finlandês (Jyrki Palo), uma americana (Carlta Vitzthum), uma italiana (Michela Coricelli) e uma japonesa (Masako Ishibashi). Todos eles vivem e trabalham na Espanha (em Madrid e em Barcelona sobretudo) ao menos há vinte anos, muitos já tendo se casado e/ou separado por lá. As preocupações são distintas, apesar do que vários repetem o que é mais visível para qualquer turista aprendiz em terras espanholas: o estranhamento com os horários de trabalho e lazer; a lentidão dos rituais burocráticos, em qualquer situação; a incompreensão inicial com o tom de voz e a entonação dos falantes do espanhol, já que podem ser sutis as diferenças entre a alegria fraterna e a estupidez de um xingamento; a rapidez como os espanhóis podem evoluir da típica paciência bovina às explosões de fúria taurina; o fato irrefutável da Espanha possuir uma marcante riqueza gastronômica. O relato do organizador, Herzog, é o que mais gostei. Apesar de despretencioso ele fala com propriedade e riqueza de detalhes sobre as diferenças linguísticas entre o espanhol e as demais linguas latinas, ou entre o espanhol, o alemão e o inglês. Os textos da italiana Coricelli, que trata dos contrastes entre a forma de se vestir entre italianos e espanhóis; do alemão Ingendaay, que descreve o ridículo no comportamento dos novos - e velhos - ricos espanhóis; da também alemã Schwarzwälder, que fala do mosaico cultural e linguístico espanhol, fonte de muita rivalidade entre eles; e o da francesa Thibaud, que contrasta a inserção das crianças nas séries iniciais das escolas francesas e espanholas, também são muito bons. Os demais incluem curiosidades que tem algum sabor literário e irrelevâncias terríveis, quase no limite do achincalhe. Publicado em 2007 o livro não é datado, mas seria interessante a inclusão no futuro de alguns relatos onde se refletisse sobre a crise terrível (econômica, financeira e de valores) por que passa a sociedade espanhola nos últimos anos. Vale. [início 14/05/2012 - fim 18/05/2012]
 "Vaya País: Cómo nos ven los corresponsales de prensa estranjera", Werner Herzog (coord.), Madrid: Puncto de Lectura (Santillana ediciones generales), 1a. edição (2007), brochura 12,5x19 cm, 244 págs. ISBN: 978-84-663-6889-6

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