sexta-feira, 18 de maio de 2012

junco

"Junco" é um dos livros de poemas que carreguei comigo nas últimas semanas (sobre o seminal "Trovar claro" já falei aqui antes). Na verdade comecei a ler "Junco" ainda nos primeiros dias do verão passado, quando estava as voltas com o impacto que foi a descoberta e a leitura de Wislawa Szymborska. Mas daí vieram as delícias do verão, os encontros e as conversas vagabundas de férias. Num dia tive de emprestar a Szymborska e também este volume do Nuno Ramos (que já havia acabado de ler) para o Sahea, poeta dos bons que nos assombra e encanta por aqui. Em uma das viagens do início do semestre vi Junco em uma prateleira e percebi que deveria voltar a ele uma vez mais. Reli os poemas e folhei o livro com renovado prazer. O livro inclui fotografias de cães mortos (atropelados em rodovias) e destroços marinhos (cousas que o mar devolve à praia). Os dois registros interagem entre si e com os poemas, como se pudéssemos visualizar no silêncio, ou antes, no ruído de fundo muito particular destes dois lugares (rodovia e praia) o substrato físico das histórias, dos poemas. Segundo Nuno Ramos os poemas foram escritos ao longo de muitos anos (quatorze) e quase todos retrabalhados após longos intervalos (ele assinala essa datas, mas não me convenci da necessidade delas). Os poemas falam das coisas que encontramos nas praias (ou que nos encontram no caminho para as praias). O mundo mineral e o mundo orgânico se misturam e se confundem. A respiração dos homens acompanha, como num recitativo, o mar que ecoa sempre poderoso. Os destroços (assim como os escolhos e os calhaus) parecem a materialização dos fracassos e dores dos homens. Não se trata mesmo de um livro luminoso, que se permita ser apreciado facilmente no calor do verão. O frio e também o cinza dos dias de inverno e de introspecção parecem mais apropriadamente recebê-los. De algum jeito fiquei no meio deste caminho de sensações e estímulos. Bom livro afinal de contas. [início 20/12/2011 - fim 15/05/2012] 
"Junco", Nuno Ramos,  São Paulo: editora Iluminuras, 1a. edição (2011), brochura 14x18 cm, 120 págs. ISBN: 978-85-7321-348-5

Um comentário:

marcelo sahea disse...

Já li e reli algumas vezes e está separadinho para retornar às mãos de seu dono no próximo reencontro, junto com a W.S.

Estou lendo 'Cujo', do Nuno, agora. Já leu? Quer?