segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

asterios polyp

Não tenho problema algum em ler graphic novels ou histórias em quadrinhos de vez em quando. Elas são divertidas, relaxam o cérebro, oferecem algum exercício não convencional. Talvez a única diferença entre essa minha cinquentona encarnação e aquela de minha meninice é que agora posso comprar qualquer gibi, qualquer revistinha, praticamente na hora que quiser, sem ficar contando o dinheiro suado do meu pai (ou do meu mesmo, depois dos quinze). Começo assim, confessional e cabotino, pois o velho curandeiro de Viena já nos ensinou que poucas coisas além das que aprendemos a gostar na infância tornam-se realmente relevantes na vida adulta. Paciência. Mas o que dizer dessa graphic novel? Bueno. Um sujeito precisa ser um bocado condescendente para encontrar algo em "Asterios Polyp" além da diversão ligeira que até uma honesta revista artesanal alcança provocar às vezes. Claro, Mazzucchelli ganhou prêmios e foi elogiado por críticos mundo afora, sabe desenhar, domina técnicas de ilustração, tem senso de ritmo e movimento, não esconde sua inspiração direta em poderosos mitos gregos, e editou um livro com muito apuro e correção, mas o que o leitor encontra é uma historieta de amor bem esquemática e rasa. Não há desafios estéticos (a um artista plástico contemporâneo só resta rir das exemplificações canhestras de Mazzucchelli). Os personagens são caricacturais ao extremo, os sentimentos e estados de ânimos deles sempre apresentados como se o leitor fosse incapaz de entendê-los ou antecipá-los através dos diálogos ou da narrativa. O desfile de questões moderninhas: dicotomias, culpa mal elaborada, a incomunicabilidade intrínsica do homem, o dualismo, a oposição de contrários que afinal se complementam, tornam a leitura apenas um exercício de paciência, principalmente porque o texto é de uma obviedade sem fim. Já sabemos o que a história vai oferecer, mas o ordálio precisa ser acompanhado até o fim. [início 19/10/2011 - fim 21/10/2011] 
"Asterios Polyp", David Mazzucchelli, tradução de Daniel Pellizzari, São Paulo: editora Companhia das Letras (1a. edição) 2011, brochura 19,5x26, 344 págs. ISBN: 978-85-359-1866-1 [edição original: New York: Pantheon Books (Randon House Inc) 2009]

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