quinta-feira, 26 de maio de 2011

impostura

Esta curta novela de Enrique Vila-Matas é um tanto diferente das outras coisas que li dele. Trata-se de uma narrativa quase linear, que acompanhamos com interesse, mas sem as surpresas advindas daqueles malabarismos mentais que encontramos, por exemplo, no "La asesina ilustrada", "Una casa para siempre" ou "Paris no se acaba nunca". "Impostura" é de 1984, publicado imediatamente antes do "História abreviada da literatura portátil", outro de seus livros bem inventivos e que lhe grangeou respeito e admiração. Aparentemente a história é baseada em um caso real acontecido na Itália, ainda no inìcio do século passado. Na versão de Vila-Matas um sujeito desmemoriado, preso em um manicômio barcelonês, consegue se passar por um escritor desaparecido, sendo inclusive reconhecido pela sua, até então, viúva. Ele teria sido morto nas estepes russas, membro que era da fascista divisão azul do ditador Franco. Posteriormente uma outra mulher o identifica como um tipógrafo trambiqueiro, pai de seu filho. O tema do livro é portanto a questão do duplo, a busca pela verdadeira identidade pessoal de cada um de nós (que podemos sim nos tornar escravos das leituras que os outros fazem de nós). Além do sujeito desmemoriado há dois personagens curiosos no livro, o diretor do manicômio e seu secretário Barnaola, que funcionam como um divertido par Don Quixote e Sancho Panza. O poder do intelecto, exposto na capacidade do desmoriado de aprender completamente a vida do escritor dado por morto, chama a atenção. Acredito que este livro é como um Coronel Chabert às avessas, já que é o desmemoriado que domina as ações dos demais, o contrário do que acontece com o livro de Balzac. A loucura, como algo postiço e quase contagioso, também é discutida no livro. Divertido e realmente fácil de ler (isto é um tanto inusual na obra que conheço dele, repito). Antes de ler as coisas mais recentes de Vila-Matas que tenho nos meus guardados pretendo enfrentar as duas novelas anteriores à este "Impostura": "Al sur de los párpados" e "Nunca voy al cine". Vamos a ver. [início 19/05/2011 - fim 21/05/2011]
"Impostura", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editorial Anagrama (narrativas hispánicas 7), 3a. edição (2003), brochura 14x22 cm, 118 págs. ISBN: 84-339-1707-2 [edição original: Anagrama (Barcelona) 1984]

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