terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

milagrário pessoal

Em "Milagrário pessoal" (que tem um longo sub-título: "apologia das varandas, dos quintas e da língua portuguesa, seguida de uma breve refutação da morte") encontramos uma curta história de amor. Na verdade são duas, aquela descrita no enredo da história inventada por Agualusa e uma outra, entre ele, o autor, com a língua portuguesa. Ele inventou uma garota, Iara, jovem linguista portuguesa, curiosa com o surgimento na imprensa de uns neologismos ditos mais que perfeitos. Ela busca ajuda com um velho ex-professor, que é o narrador da história. Este último a leva por um intrincado caminho de pistas literárias: os neologismos são transmitidos por pássaros; ou são invenção de uma confraria de revolucionários angolanos do século XVII; ou invenções de outros escritores portugueses, timorenses, brasileiros e angolanos; ou uma invenção do próprio narrador, o velho ex-professor. Há algo de ensaio literário no livro, mas nada que aborreça o leitor. Como nos demais livros de Agualusa que li este é dividido em capítulos bem curtos, movimentados, que levam o leitor a vários cenários: a Angola dos tempos da rainha Ginga, no século XVII; ao Timor Leste no tempo da invasão da Indonésia; a um puteiro e a uma pousada sofisticada na Pernambuco de nossos dias (cousas do Brasil estas misturas); a Nairobi dos tempos do ubíquo Richard Francis Burton; a Lisboa cosmopolita onde vivem os personagens. O livro faz elogios à vida sossegada nos quintais repletos de sombra, árvores frutíferas e pássaros; fala da música e da poesia; conta a contribuição dos homens simples na criação e no uso das palavras que correm entre todos de um lugar. Não é exatamente um livro arrebatador, mas vale as horas agradáveis que passamos com ele, com que viajamos por uma espécie de história da língua portuguesa com ele. No final (com ironia e leveza) impossível não lembrar do "The Poodle Lecture" do Frank Zappa: "The man would do anything to get some pussy. And that's why the woman always had control over him". Cabe ainda dizer que este livro (editora e coleção) faz parte de um bom projeto pessoal de Agualusa: "dar a conhecer as vozes novas da língua portuguesa". A edição é bem cuidada e a lista de autores angolanos, cabo-verdianos, goenses, de seu catálogo, extensa. Infelizmente eu acabo sempre lendo os livros do próprio Agualusa e não os demais editados por ele. Paciência. A "Língua Geral" vale sempre uma consulta. [início 10/01/2011 - fim 13/01/2011]
"Milagrário pessoal: apologia das varandas, dos quintais e da língua portuguesa, seguida de uma breve refutação da morte", José Eduardo Agualusa, Rio de Janeiro: editora Língua Geral (coleção Ponta de lança), 1a. edição (2010), brochura 13x18 cm, 234 págs. ISBN: 978-85-60160-69-3

2 comentários:

Anônimo disse...

talvez meu próximo, quero tirar a má impressão do barraco tropical, seu último livro.. mas tenho na fila Mcewan, Mann e Llosa. Páreo duro.

Anônimo disse...

Também li, e também comentei em meu blog =)
se puder, visite www.leonardobandeira.wordpress.com