domingo, 21 de novembro de 2010

a louca de maigret

Atrapado em um aeroporto no interior das minas dos matos gerais fiquei verdadeiramente chateado quando percebi que terminaria ainda ali, longe de casa, o último dos livros que havia incluído na bagagem. O divertido "París no se acaba nunca" se acabava, era tempo de encontrar algo novo para ler, e rápido. Na conexão em São Paulo consegui uns poucos minutos livres e eis que um Simenon, justo este "A louca de Maigret", coube a mim. Quando foi que o li pela última vez? Há uns vinte anos provavelmente. Minha veia de leitor de romances policiais secou por anos. Foi o Manolo Montalbán quem me resgatou para este gênero, e isto muito recentemente. O quê dizer dos livros de Simenon? São bons romances, sem descrições supérfluas, repletos de diálogos que conduzem freneticamente qualquer história. Mas a maquinaria das histórias de detetive está tão entranhada na prosa de Simenon que a irrelevância da leitura fica quase explícita. Ele conduz o leitor por um labirinto de possibilidades de investigação e até permite que este possa aventar uma ou outra delas como a solução do crime em questão, mas seu detetive é demasiado hábil, demasiado implacável. Em "A louca de Maigret" o detetive coloca seu engenho na investigação do assassinato de uma velhinha que ele poderia ter salvo, caso levasse seus temores mais a sério. Por se sentir algo responsável ele dedica seu tempo livre em acossar os suspeitos mais à mão, parentes dela e agregados, praticamente deixando-os se enredar por si próprios, em uma transferência clássica de culpa (investigadores, assim como os médicos, devem aprender cedo a não se envolverem emocionalmente com nada). Se falta materialidade ao crime, se é praticamente impossível imputar a responsabilidade a quem induziu de fato o assassinato, Maigret o deixa com sua culpa privada, que provavelmente o assombrará por anos. É um livro fácil de ler (antes do avião aterrisar eu já o havia terminado), já cumpriu sua missão. Preciso voltar a algo com mais estofo para me divertir de verdade. [início - fim 13/11/2010]
"A louca de Maigret", Georges Simenon, tradução de Paulo Neves, editora L&PM Pocket (v. 792), 1a. edição (2009), brochura 10,5x18 cm, 158 págs. ISBN: 978-85-254-1906-4

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