sexta-feira, 4 de junho de 2010

a morte de matusalém

Compilados em livro em 1985 "A morte de Matusalém e outros contos" reúne contos que foram publicados originalmente em revistas como New Yorker, Partisan Review, Esquire e Harper´s. São vinte contos de um sujeito de quem nunca é demais louvar as qualidades. Como ele escreve bem. São poucos os escritores que conheço campazes de em curtos parágrafos construirem histórias e personagens que parecem saltar vivos das páginas do livro. As vezes os temas são pesados, terríveis, mas o texto de Singer sempre foca nos aspectos mais humanos, mais universais, mais morais. A noção do tempo nos contos também é uma coisa incrível. Quando o leitor começa a se impacientar com o enredo eis que um personagem toma sua frente e faz a história avançar. E isto acontece as vezes duas ou três vezes mesmo nos contos curtos (quem me alertou para isto foi a Helga, também admiradora do Singer). Ele conta histórias convencionais, do dia-a-dia de homens e mulheres das grandes cidades, e também histórias de fundo mitológico, folclórico, recolhos da memória popular de seu povo. Longe de ser apenas um escritor de textos que deleitam ele é capaz de, através de seu agudo e objetivo senso de observação, denunciar sem piedade os maus comportamentos, as éticas tortas, as hipocrisias ridículas, enfim, tudo do que é condenável no comportamento quase sempre falho do ser humano. Por exemplo, há duas frases neste livro que resume tudo o que está acontecendo com a política no Brasil contemporâneo, neste período pré-eleitoral: "Os políticos veem com naturalidade que alguém se bandeie para o lado mais forte sem aviso prévio. (...) O homo politicus não quer saber de fé genuína nem de intenções verdadeiras; a única coisa que interessa é estar com a panelinha vitoriosa". Triste é ler uma coisa destas e saber que a maioria da população brasileira, analfabeta e venal, sempre vai ter orgulho besta deste tipo de político. Bueno. Nunca é demasiado ler Isaac Singer. Sempre é uma festa ler este sujeito (que escreveu quase toda sua produção em íidiche e ganhou o prêmio Nobel em 1978). O livro inclui um bom glossário dos termos em íidiche que foram mantidos. E tenho ainda um par de livros dele para ler. É tempo! [início 13/05/2010 - fim 21/05/2010]
"A morte de Matusalém e outros contos", Isaac Bashevis Singer, tradução de Alexandre Hubner, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2010), brochura 14x21 cm, 237 págs. ISBN: 978-85-359-1617-1

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