quarta-feira, 17 de março de 2010

a elegância do ouriço

As primeiras 100 ou 120 páginas de "A elegância do ouriço" são realmente boas e apresentam um tanto dos hábitos e características da sociedade francesa. O que me parece mais explícita é a descrição de como as classes são estratificadas culturalmente na França, ou mais propriamente dizendo, de como os indivíduos ascendem ou não socialmente em função do tipo de educação formal que têm por lá. Muriel Barbery nos mostra nestes primeiros capítulos os habitantes de um prédio de classe média alta: empresários, políticos, profissionais liberais de sucesso. O dia-a-dia destes personagens é resenceado por dois olhares distintos: uma garota de seus doze, treze anos, filha dileta e inteligente de uma das famílias abastadas do prédio, e uma senhora de meia idade, pouco mais de cinquenta anos, que trabalha como zeladora do edifício. Alternadamente acompanhamos a garota e a senhora nas suas estratégias de convívio social. Ambas são pessoas mais ricas e complexas do que aparentam ser, mas vivem basicamente em conflito, pois não é trivial conviver em um mundo de aparências e de regras sociais rígidas. Por volta do final da primeira terça parte do livro um personagem morre (é o proprietário de um dos grandes apartamentos do prédio e é o personagem do livro "a morte do gourmet" que resenhei imediatamente antes deste). Com a morte do crítico gastronômico seu apartamento fica vago e um personagem novo é introduzido na trama. Como em todo livro que segue esta fórmula o novo personagem desestabiliza os demais e os força a transformações rápidas. Este personagem é um japonês riquíssimo e sofisticado que atrai, como não, a curiosidade de seus vizinhos. Ele acaba se interessando mais pelas duas narradoras do livro (a menina e a senhora zeladora) do que por seus iguais. A partir daí o livro desanda. São "japonesices" demais, filosofias diluídas demais, comentários literários simplistas e rasos demais para um livro só. O final é digno de uma novela mexicana. Alguém precisaria mandar um exemplar do "A hora da estrela" para a autora do livro aprender como um ser humano mais verossímel morre em um livro de verdade. Bueno. De qualquer forma é um livro interessante, que se lê de uma sentada só e onde se aprende um tanto sobre a sociedade francesa. Preciso agradecer a Sibele pela dica (sempre mais honesta do que eu quando se trata de avaliar as coisas). [início 09/03/2010 - fim 12/03/2010]
"A elegância do ouriço", Muriel Barbery, tradução de Rosa Freire d´Aguiar, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008), brochura 14x21 cm, 350 págs. ISBN: 978-85-359-1177-0

Nenhum comentário: