quinta-feira, 2 de julho de 2009

indignation

Comprei este "Indignation" do Philip Roth em um dia paulista com Renato Cohen e Luiz Melo. Gostei da edição, impressa com letras grandes e em papel reciclado. Logo após de terminar o "Questões de honra" decidi que era hora de enfrentar mais um Philip Roth (e comparar Begley e Roth uma vez mais). A história é curta, mas intensa, e leva o leitor a refletir um bocado. Acompanhamos uns poucos meses da vida de um jovem estudante universitário americano do início dos anos 1950 (mais exatamente no início da guerra da Coréia, a mesma Coréia que ultimamente tem merecido destaque nos jornais por conta de seus planos de dominar o ciclo de produção de armas atômicas e desenvolvimento dos vetores balísticos que as transportem o mais longe possível). Esta guerra entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte tecnicamente ainda não terminou, apenas está em uma longa fase de armistício tácito. O rapaz, Marcus Messner, um judeu filho de um açougueiro kosher, acabou de entrar na universidade, o típico ritual de ascenção social que frequentemente encontramos nos livros de Roth. Mas Marcus é um sujeito mais complexo que apenas um alpinista social que usa sua inteligência. Ele é persecutório e paranóico do início ao fim do romance. Usa a entrada na universidade para se afastar fisicamente e intelectualmente dos pais, mas após o primeiro ano se transfere para uma universidade ainda mais afastada de sua Newark (New Jersey) natal, indo para uma universidade conservadora e cristã no estado americado de Ohio. Tanto no primeiro ano quanto no segundo ano da universidade ele tem experiências limite, principalmente nos campos do convívio social, da iniciação sexual, do compromisso acadêmico, de sua saúde física e mental e das relações afetivas com seus pais. O que paira sobre ele e todos os demais acadêmicos é a certeza de somente serem poupados de irem à guerra, ou seja, de serem convocados para a guerra da Coréia, pelo fato de serem estudantes universitários. O romance se desenvolve rapidamente, mas logo descobrimos que Marcus está morto e o texto é uma longa reflexão sobre sua nova condição, imediatamente após ter sido abatido na guerra. Como ele foi parar lá? É isto o que o romance descreve. Philip Roth nos mostra como pequenas, bobas, impensadas decisões, sobre temas banais, têm repercusões incontroláveis, inimagináveis sobre nossas vidas. Por mais articulados, espertos ou inteligentes que possamos ser a história de nosso tempo e os fatos exteriores a nós sempre irão nos tragar sem remissão. A idéia do livro ser escrito por alguém moribundo "under morfine", como ele coloca no título do longo primeiro capítulo (que domina praticamente todo o livro), ou já morto, como podemos inferir do pequeno segundo capítulo "out from under", faz uma curiosa simetria com a dicotomia entre o mundo real e o nossa leitura interna deste mundo real. A meu juízo neste livro Roth nos diz que o mundo real está para nossa mente, nossa consciência enfim, como a consciência e a memória estão para o mundo de além morte. Podemos ficar ali um tempo infinito refletindo sobre um único ato, uma única fala, um único devaneio e imaginarmos as infinitas possibilidades que estes gestos teriam sobre nossas vidas. "Indignation" é mesmo mais um bom soco na boca do estômago do leitor. Não dá para ficar indiferente à ele. [início 29/05/2009 - fim 31/05/2009]
"Indignation", Philip Roth, editora Random House (1a. edição) 2008, brochura 12,5x19, 356 págs., ISBN: 978-0-7393-2811-8

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