segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

do céu de santa maria

Este livro foi lançado em uma cerimônia de encerramento das atividades de comemoração dos 150 anos da cidade de Santa Maria. Era uma noite chuvosa e feia de final de inverno, mas havia um bocado de gente prestigiando a festa. Trata-se de um livro belíssimo, com dezenas de fotografias aéreas da cidade, apresentadas em ordem cronológica, desde a década de 1930 até 2008. Com as legendas o leitor se localiza rapidamente e as fotos mais recentes foram tomadas de forma a propiciar algum contraste com as mais antigas, demostrando principalmente como a mancha urbana da cidade de desenvolveu. Duvido que a cidade tenha recebido uma homenagem tão bonita e tão preciosa em seu aniversário. O livro serve a bem mais do que um documento a ser utilizado pelas futuras gerações de interessados pela história da cidade. O José Newton, o Paulo Fernando e o Valter Noal foram os organizadores, mas neste livro houve aquele raro encontro de colaboradores de vários segmentos, de vários extratos sociais, de vários matizes políticos, de variados interesses públicos e privados. É raro, mas as vezes este tipo de coisa acontece. Quem participou bastante na idéia deste livro foi meu vizinho Werner Rempel, cabe dizer. Quando vejo um santa-mariense legítimo folheando o livro percebo logo o brilho nos olhos ao reencontrar uma paisagem antiga, um lugar caro a sua memória particular. Mesmo quem só conhece Santa Maria de passagem ou se radicou aqui quando ela já tinha mais ou menos a distrituição espacial que tem hoje em dia aproveita muito deste livro. É mesmo um documento. Ele foi produzido com recursos da Lei de Incentivo a Cultura e pode se adquirido somente na Casa de Cultura de Santa Maria, ali na praça Saldanha Marinho. Já comprei vários e presenteei amigos meus e amigos de Santa Maria. Bom. Com esta postagem eu fico mais ou menos em fase com os livros que estou li neste ano mesmo. O próximo será um Philip Roth que terminei já no feriado vagabundo de primeiro de janeiro. Este "Do céu de Santa Maria" fica com o carimbo de último lido de 2008. Cousa boa. [início agosto/2008 - fim 31/12/2008]
Do céu de Santa Maria, José Newton Cardoso Marchiori, Paulo Fernando dos Santos Machado e Walter Antonio Noal Filho, editora Prefeitura Municipal de Santa Maria (1a. edição) 2008, capa dura 26,5x30,5, 252 págs. ISBN: 978-85-7782-041-2

domingo, 18 de janeiro de 2009

o avesso da vida

Entre fevereiro e julho do ano passado li cinco livros de Philip Roth. Em agosto continuei e li o primeiro capítulo deste "O avesso da vida" mas resolvi parar, pois estava saturado daquilo tudo: principalmente do binômio sexo e câncer, mas também dos jogos mentais, do judaísmo e da psicologia, da alta literatura e falta de otimismo. Claro, são exatamente estes os ingredientes que sempre me agradam na obra de Roth, mas há épocas da vida em que temos de escolher entre um bom livro e nossa saúde mental. Deixei o livro empilhado na estante. No final de dezembro, quando o estado de Israel recomeçou seu massacre da vez na faixa de Gaza resolvi retomar o livro. Afinal a única coisa que salva o sionismo é a existência de bons escritores como Philip Roth. Neste livro, escrito em 1986, o personagem Nathan Zuckerman, que eu tinha acabado de ver definhar no bom "Fantasma sai de cena" aparece no auge da maturidade, enredado em uma série de situações bizarras. São cinco capítulos algo díspares. No primeiro acompanhamos a história da morte de seu irmão, um dentista indeciso entre a manutenção de sua vida sexual e os cuidados com uma doença coronária. No capítulo seguinte reecontramos este mesmo irmão (não morto obviamente) vivendo em um asssentamento judaico próximo a Belén, na Cisjordânia, em meados dos anos 1970. Nathan e este irmão discutem o fanatismo religioso dos judeus ortodoxos destes assentamentos e o papel de líderes religiosos radicais nas organizações sociais e em um estado não-laico como Israel. Como se trata mesmo de um romance onde a imaginação parece construir sempre a realidade, no terceiro capítulo Nathan tem uma alucinação: sentado a seu lado em um avião da El Al um jovem judeu americano tenta sequestrar ou explodir o avião e é impedido por agentes do Mossad disfarçados. Natham é rudemente tratado como cúmplice do fanático religioso (cuja motivação parece ser fazer com que Israel siga seu caminho sem explorar o holocausto como justificação de violência contra os árabes). No capítulo seguinte acompanhamos como Nathan se envolveu com uma inglesa cristã casada e de como esta descobre, durante um aparente impedimento de Nathan por motivos de saúde, entre seus guardados, material ficcional onde o relaciomento afetivo, familiar e conjugal deles é trabalhado e friamente descrito. Curiosamente o próprio Nathan morre neste capítulo e lemos algo sobre os discursos elegíacos de seu funeral. No último capítulo, que se passa em Londres, discute-se principalmente sobre situações à reação de Nathan a vários ataques anti-semitas. Ataques de um casal em um restaurante sofisticado, da cunhada em uma igreja e da própria sogra em sua senhorial casa de campo, que mais surpreendem, constragem e chocam sua mulher que aliviam a fúria sionista de Nathan. Ele e a mulher também discutem se é médica ou religiosa a necessidade de se fazer a circuncisão no filho deles que está para nascer. É um livro difícil. Eu não diria que um capítulo contradiz o anterior como se lê na quarta capa da edição que li. Mais bem me parece uma série de descrições de como as idéias de um romancista se misturam com suas experiências reais e propiciam ou não material que se torna um texto de ficção. Afinal o livro nem é um ensaio sociológico ou histórico. Nas palavras do Roth no livro: "Em vez disto, copiei tudo para as minhas notas pessoais, aquele próspero armazém de estocagem de minha fábrica narrativa, onde não existem demarcações precisas separando o que acontece de fato, e é relegado eventualmente à imaginação, daquilo imaginado e tratado como tendo de fato ocorrido - a memória tão interligada com a fantasia quanto ela é no cérebro." Bom livro, pena que ao terminar de lê-lo ainda existia a fria realidade das centenas de civis palestinos massacrados pelo estado de Israel. Vamos em frente. [início agosto/2008 - fim 30/12/2008]
"O avesso da vida", Philip Roth, tradução de Beth Vieira, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 13,5x18, 371 págs. ISBN: 978-85-359-1249-4

sábado, 17 de janeiro de 2009

contos de beedle

Os cinco contos curtos reunidos por J.K. Rowling neste livro servem para propostos variados, o mais óbvio deles sendo o de manter a industria de negócios da marca Harry Potter em funcionamento. Claro, ele gera algum dinheiro para uma sociedade beneficiente (Children´s High Level Group) mas esta sociedade atua apenas na Europa e não é ali exatamente onde as crianças mais necessitadas estão hoje em dia e de resto o grosso do dinheiro vai mesmo para a senhora Rowling. O livro é curto, mas bem editado, com belas ilustrações. A idéia original envolve criar contos de fada para serem lidos e contados para crianças bruxas, ou seja, envolvem o mundo mágico criado pela autora e que já fazem parte do imaginário contemporâneo. Apesar de me parecer um autêntico caça-niqueis (publicado no mundo todo a tempo dos pais comprarem o livro para presentear os filhos antes do natal) as histórias em si tem lá seu charme, mas não a ponto de merecem que um Bruno Bettelheim os desconstrua. Qualquer leitor que goste de mitologia ou do uso de historinhas infantis para ilustrar alguma moral à seus filhos vai se entreter talvez mais que os pequenos. Ainda acredito que os livros dela servem para iniciar leitores que naturalmente procurarão produtos com mais estofo após as incursões pelo mundo mágico que ela criou. [início / fim 29/12/2008]
"Os contos de Beedle, o bardo", J.K. Rowling, tradução de Lia Wyler, editora Rocco (1a. edição) 2008, capa dura 13,5x19, 107 págs. ISBN: 978-85-325-1601-5

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

minhas receitas japonesas

Um dia conheci o Toninho e a Alice, que me apresentaram a Beth e o Fábio, que me apresentaram a Sibele, que me apresentou o Koji, que é irmão da chef Mari Hirata. Se é que eu me lembro bem estive apenas uma vez com ela, em jantar na casa da Sibele e do César, mas não estou certo (existe um alemão que teima em provocar a desmielinização dos meus neurônios, sabe-se lá até quando). Todavia acompanho os textos que ela produziu nos últimos anos para várias publicações, especialmente a Folha de São Paulo e sempre ouço com prazer as histórias japonesas dela que a Sibele me conta vez ou outra. Pois ela acabou de publicar "As minhas receitas japonesas: o pequeno prazer ao alcance de todos". Mari é mesmo uma cozinheira de mão cheia e tem aquele treino que tornou-a uma professora, consultora, quituteira e chef reconhecidamente especial, dona de paciência e generosidade com seus alunos, senhora das formas de apresentar sem medo pratos novos ou técnicas milenares. Neste pequeno livro estão registrados textos inicialmente produzidos para a Revista da Folha e publicados entre o início de 2006 e o início de 2008. São histórias curtas, diretas, encantadoras mesmo, que adornam as receitas de pratos tradicionais japoneses. Ela sempre se preocupa com as possibilidades de adaptação destas receitas aos limites da oferta de ingredientes encontráveis no Brasil, principalmente no caso das receitas-base (dashi, missoshiru, teriyaki, mandju, por exemplo). Ao mesmo tempo que conta a história destes pratos ela deixa fluir seu bom humor, nos apresentando um tanto seu olhar de nisei radicada há mais de 20 anos em Tóquio. O livro conta com um objetivo glossário dos termos mais importantes. Por fim cabe dizer que ele serve como uma consultoria particular com a Mari (que tem uma agenda bastante disputada). Só é pena que junto com as belas fotografias o livro não traga também um tanto dos aromas e dos sabores dos pratos produzidos por ela. [início 21/12/2008 - fim 27/12/2008]
As minhas receitas japonesas, Mari Hirata, Publifolha,1a. edição (2008), brochura 14x21cm, 191 págs. ISBN: 978-85-7402-952-8

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

conversas com woody allen

No início dos anos 1990 li uma bela biografia de Woody Allen, editada pela Companhia das Letras, escrita pelo jornalista americano Eric Lax, colaborador contumaz de revistas como Esquire, Vanity Fair e The New York Times Magazine. Nela ele resumia em quase quatrocentas páginas as muitas entrevistas e encontros que manteve com Woody Allen desde 1971 até mais ou menos a época do lançamento do filme Crime e Pecados. Muito bom mesmo, leitura obrigatória para os entusiastas da obra de Woody Allen. Lax é um sujeito de sorte. Foi convidado por acaso para fazer uma matéria com o diretor (Allen tinha 35 anos na primeira entrevista) e continuou frequentando os sets de filmagens de seu biografado por anos a fio. Um privilégio dos grandes. O incrível é que depois desta primeira biografia ele manteve contato com Allen e conseguiu produzir um outro livro que eu acho ainda melhor. Não porque uma nova biografia contem necessariamente mais informação ou acumulou mais tempo de vida, mas pela forma com que ele organizou o material. Eric Lax neste "Conversas com Woody Allen" distribuiu por temas específicos cerca de 35 anos destas conversas com Woody Allen. O livro ficou tão bom que um roteirista pode ler sem medo só a seção dedicada a este ítem; da mesma forma que podem fazê-lo um editor, um diretor, um produtor, um cenógrafo ou um diretor de fotografia. Como ele se envolve intensamente de fato em todas as fases de produção de um filme e os produz de forma quase industrial (já são 39 longas-metragens em 42 anos de carreira) suas opiniões são muito justificadas e experimentadas. Eu diria que este livro funciona como um "manual de cineasta". A edição da Cosac como sempre é um primor, muito bem cuidada. A iconografia é enorme, são dezenas de imagens de quase todos os filmes dele. O índice remissivo ajuda o leitor a se localizar em todos os temas nos quais o livro é dividido e aproveitar melhor as reflexões e o bom humor de Allen. Este livro cobre os filmes até "Scoop" (de 2006, bem discutido e analisado) e "O sonho de Cassandra" (de 2007, este só superficialmente citado, pois estava em pós-produção). Espero que em uma futura versão ele conte um tanto do belo "Vicky Cristina Barcelona" que vi noutro dia mesmo. [início 18/12/2008 - fim 28/12/2008]
"Conversas com Woody Allen", Eric Lax, tradução de José Rubens Siqueira, editora Cosac Naify (1a. edição) 2008, capa dura 17x22, 512 págs. ISBN: 978-85-7503-740-9

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

usagi yojimbo

As férias são para vagabundagem e diversão. Nestes dias vagabundos de dezembro tentei desovar tudo que havia começado e descartado por serem bobagens solenes ou que não me interessaram na época em que começei a lê-los. Uma ou outra coisa se salva, fazer o quê? Bom, terminei de ler este mangá, "Usagi" , que achei nos guardados que estavam a procurar seu sítio. Trata-se na verdade de um quase-mangá, escrito à ocidental, sem os requintes que a Conrad ou a JBC utilizam em suas edições, mas honesto e muito bom de ler. Aqui encontramos ecos do "Musashi". Na verdade Usagi é uma versão do Musashi onde o herói do século XVI é retratado como um samurai coelho e seus oponentes usuais aminais de várias espécies: cães, lobos, ursos, gatos, rinocerontes, javalis, um curioso universo antropomórfico "por supuesto". Um sujeito que goste das aventuras de samurai ou da cultura japonesa encontra algum prazer nesta história. Claro, não há nada que substitua a leitura do original de Eiji Yoshikawa (que eu li na tradução de Leiko Gotada, publicada pela Estação Liberdade 10 anos atrás e que está a receber uma reedição comemorativa) mas neste curto livrinho há algo da magia da história original. Bom divertimento. [início / fim 25/12/2008]
Usagi Yojimbo, Stan Sakai, tradução de kleber de Sousa, editora Devir (1a. edição) 2008, brochura 17x24, 208 págs. ISBN: 978-85-7532-311-3

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

imigração japonesa

Vamos a ver. O título é grande à beça: "50 anos de história: imigração japonesa em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil (1958-2008)", mas vale a pena o registro, pois ele já explica um tanto a cousa. A edição é muito bem cuidada. Encontramos belas fotos e ilustrações, o texto bilíngue, o registro de um tempo e de um punhado de vidas. O André me convidou para fazer uma apresentação e me passou o texto meses atrás, mas só quando tive o livro em mãos pude apreciá-lo plenamente, ou melhor, devidamente. O livro é mesmo o produto de uma paixão. André se envolveu há tempos com as cousas do Japão: com sua cultura, culinária, arte, língua e também com sua história, daí a idéia do livro. Lendo ficamos sabendo que Santa Maria recebeu um grupo grande de imigrantes japoneses e estes se relacionaram com a cidade de uma forma rica e complexa. Desde quando vim para cá percebi somente a parte mais visível desta imigração: algumas lojas de flores, alguns sobrenomes de alunos, alguns rostos na multidão. Mas acompanhando o livro do André pude melhor avaliar o quanto mais havia da cultura japonesa imerso nesta região central do Rio Grande do Sul. Trata-se de um livro que não se pode comercializar, pois foi produzido com recursos da Lei de Incentivo a Cultura para distribuição para escolas e bibliotecas. O texto é curto. Reli no dia do lançamento (lá na CESMA, onde mais?) com renovado prazer. Estou certo que ele terá vida longa nas mãos das futuras gerações curiosos sobre a cultura japonesa e na rica história dos movimentos migratórios do Rio Grande do Sul. [início / fim 23/12/2008]
50 anos de história: Imigração japonesa em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil (1958-2008), André Luís Ramos Soares e Tomoko Kimura Gaudioso, editora Maria do Cais (1a. edição) 2008, brochura 21x30, 190 págs. ISBN: 978-85-99609-16-3

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

eu falar bonito um dia

No ano passado li e gostei de um livro de David Sedaris chamado "De veludo cotelê e jeans". Havia um frescor, uma vívida imaginação, um estilo ácido, direto mesmo, que me encantou do começo ao fim. Já este "Eu falar bonito um dia" é um porre, maçante mesmo, totalmente descartável, também, do começo ao fim. Talvez o editor brasileiro já soubesse disto quando publicou aquele (que é de 2004) antes deste último (que é de 2000) e portanto resolveu apresentar o melhor peixe antes das sobras. Vá saber. Da primeira parte, onde ele fala de suas experiências da juventude, na escola, nos primeiros empregos, com a família, ainda se pode dizer alguma coisa boa, mas a segunda parte, onde ele descreve sua vida na França é muito ruim. Principalmente nesta segunda parte "Eu falar bonito um dia" é alicerçado nas diferenças linguísticas e culturais entre os Estados Unidos e a França (e é um livro escrito antes dos atentados de 11 de setembro, que recrudesceram e tiraram o humor desta disputa, mas esta é outra história). O sujeito emigra para uma cidade rural francesa e descreve várias facetas de seu envolvimento com a língua. Na primeira ou segunda vez ainda ficamos interessados. Quem já não experimentou o estranhamento de se ouvir falando um idioma diferente na frente de um nativo pela primeira vez? Mas a fórmula é repetida vezes demais para que arranque algo mais que um esgar de meu rosto depois de certo tempo. Tudo muito repetitivo. Mas vamos em frente (e com alguma paciência, já se vê). [início 16/12/2008 - fim 18/12/2008]
"Eu falar bonito um dia", David Sedaris, tradução de Bruno Gomide, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 246 págs. ISBN: 978-85-359-1237-1

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

brisingr

Brisingr é o terceiro volume de uma série de aventuras mágicas escritas pelo jovem americano Christopher Paolini. O primeiro volume até virou filme, com os bons atores Jeromy Irons e Robert Carlyle no elenco. Li este volume por inércia mesmo, pois queria saber como terminaria a trilogia, mas o garoto não é bobo é esticou o final da história para um futuro quarto volume. Paciência. Assim como os volumes anteriores (Eragon e Eldest) neste temos o absoluto bem contra o absoluto mal. Eragon e Saphira (seu dragão) completam seu treinamento com o dragão Glaedr e o cavaleiro elfo Oromis, mas agora ficamos sabendo que é possível se apossar da "alma" de um dragão ao retirar deste um objeto esférico. Uma pessoa pode acumular muito poder acumulando estes objetos (isto lembra o Ouro do Reno da mitologia nórdica, claro, e o cavaleiro mal da história é um bom dublê de Fafner). A diversão segue garantida, com a descrição de muitas batalhas, atos heróicos, sacrifícios, aprendizagens, histórias, sagas e mitologias. O irmão meio humano de Eragon (Roran) ganha destaque neste volume, com suas façanhas intercalando capítulos com a história principal. Aliás vários outros personagens são melhor delineados agora. Mas como o dinheiro sempre é um incentivo à imaginação alguém tem de ganhá-lo e, apesar das 700 páginas deste volume ,o garoto resolveu guardar o final para um volume extra. Esperemos pois. [início 26/11/2008 - fim 16/12/2008]
"Eldest", Christopher Paolini, tradução de Waldéa Barcellos e Alexandre D´Elia, editora Rocco, 1a. edição (2008) brochura 14x21, 706 págs. ISBN: 978-85-61384-49-4

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

hemingway

"A boa vida segundo Hemingway" não é exatamente um livro que se recomende. Comprei este livro totalmente por impulso e li em trinta, quarenta minutos. Que caça-níqueis vagabundo! Eu já sabia do que se tratava, mas comprei assim mesmo pois precisava distrair-me em uma curta viagem de ônibus. Para fins mais nobres seguro que este livro não presta. Trata-se de uma série de aforismos, frases, citações e guardados compilados de e sobre Hemingway, perpetrados por um jornalista que chegou a escrever uma longa biografia sobre ele anos atrás e deve ter percebido que poderia ganhar um punhado a mais de dólares requentando o material não aproveitado. Claro, há um bocado de fotografias que cobrem toda a vida do sujeito, do nascimento às semanas que antecederam sua morte. As fotos (cerca de 150, em preto e branco) salvam o livro, que é dividido em capítulos curtos: família, amigos, viagens, esportes, guerra, e por aí segue. Levei mais do que os 40 minutos de leitura apreciando as fotos, confesso. Quem tem admiração pelo autor de "O velho e o mar", "O sol também se levanta", "Por quem os sinos dobram" se diverte um tanto, mas nada mais do que isto. Ligeiro. [início / fim 28/11/2008]
"A boa vida segundo Hemingway, A.E. Hotchner, tradução de Luis Fragoso, editora Larousse do Brasil (1a. edição) 2008, brochura 16x23 158 págs. ISBN: 978-85-7635-416-1

domingo, 4 de janeiro de 2009

arranca-me a vida

Como eu conheço pouco a literatura mexicana (Carlos Fuentes, Octávio Paz e David Toscana são os únicos que me vêm a mente) e nada da literatura mexicana feminina resolvi ler este livro (ele estava de moda por conta de um filme homônimo). Publicado originalmente em 1985 e escrito por Ángeles Mastretta é um livro calcado na história do México, nos conturbados anos 1930 mexicanos (uma sucessão de escaramuças entre generais e grandes proprietários, que vai desembocar na formação do partido revolucionário institucional - este nome é uma piada pronta, como diria o José Simão - partido que ficará no poder no México por uns setenta anos). A história é contada por uma jovem (Catalina) que se casa por imposição da família com um ambicioso general (Andrés Ascencio). Trata-se de uma metáfora óbvia das possibilidades mexicanas à época: o frescor e juventude da moça (um possível futuro mexicano) em contraposição à brutalidade e rigidez do general (o passado mexicano). O general sobe na hierarquia política mexicana, torna-se governador de uma província e chega a ser candidato possível à presidência do país. Mas apesar de ser muito hábil politicamente acaba perdendo lentamente seu naco de poder real, sendo substituído nos grandes círculos do poder por seus maiores inimigos (outrora amigos, claro). A moça em algum momento se envolve com um rapaz idealista, por conta de suas preocupações sociais e seu trabalho de caridade. Óbvio que a partir deste intercurso o destino do sujeito não será nada agradável. Uma mulher sabe ser vingativa, já aprendemos com os gregos. É um livro onde o olhar feminino faz o leitor refletir sobre a política, as questões de poder, as intrigas e o pragmatismo inerente destas atividades. A única diferença aparente entre o México e o Brasil daqueles dias é que naquele os vis senhores se intitulavam generais enquanto neste os vis senhores se intitulavam coronéis (para meu juízo o sistema continua funcionando aqui, com o atual governo de plantão comprando votos e consciências sem o menor pudor - eu diria que ainda há tempo para desmascarar este pateta chamado lula, mas já é pedir demais alguma inteligência do miserável povo brasileiro). Há algo neste livro que lembra a algumas passagens do "Travessuras da menina má", do Vargas Llosa (mas este foi escrito muitos anos depois, ulalá), além de uma passagem que lembra Morgana enfetiçando Merlin, no mito arturiano (gosto destas citações algo cifradas em um livro). É um livro bom de ler, mas o filme eu jamais vou ver. [início 24/11/2008 - fim 27/11/2008]
"Arranca-me a vida", Ángeles Mastretta, tradução de Ledusha Spinardi, editora Objetiva (1a. edição) 2003, brochura 14x21, 286 págs., ISBN: 978-85-7302-576-X

sábado, 3 de janeiro de 2009

semmelweis

“A vida e a obra de Semmelweis” é uma biografia de Ignaz Semmelweis, um húngaro nascido em 1818 e morto em 1865. Apesar de conhecê-lo desde muito tempo somente li este livro por conta de um pedido do Luís-Fernando Schelp, pois ele decidiu presentear seus ex-alunos de medicina com uma versão caseira do texto e precisava de um leitor para encontrar eventuais “barrigas” na transcrição. Publicado em livro em 1936 “A vida e a obra de Semmelweis” foi inicialmente a tese de doutoramento (em medicina, 1924) do grande escritor francês Louis-Ferdinand Destouches (que posteriormente adotou o sobrenome materno Céline ao assinar seus livros). Trata-se de um pequeno texto que serve a muitos propósitos: aprendemos algo sobre o método científico; sobre a história da medicina; sobre como escrever bem um texto; sobre a vida de um médico húngaro que não soube evitar sua própria decadência. Hoje se sabe que Semmelweis não foi o primeiro médico a descobrir que a febre puerperal (ocorrência médica onde a temperatura de uma parturiente fica maior ou igual a 38°C nos primeiros dez dias após o parto) acontece principalmente pela falta de assepsia, do simples procedimento de médicos e enfermeiras não lavarem as mãos a cada procedimento ou exame que tinham com uma paciente. Oliver Holmes nos Estados Unidos, Charles White na Inglaterra e Alexander Gordon na Escócia, já haviam discutido como cuidados básicos de higiene poderiam diminuir óbitos nos procedimentos obstetrícios, mas o caso de Ignaz Semmelweis é sempre lembrado, pois suas conclusões e sugestões nunca foram aceitas pela comunidade científica austríaca de Viena, onde ele atuava profissionalmente na primeira metade do século XIX, nem na França, onde alguns de seus colegas trabalhavam. Atormentado pelo fracasso em conseguir convencer seus pares de suas descobertas Semmelweis, bastante estressado e deprimido, volta a sua Budapeste natal, onde volta a clinicar, mas onde reiteradamente é alvo de hostilidade e zombarias. Para aqueles que o consideram um mártir da medicina reza a lenda que ele contagiou-se propositadamente com bactérias de uma sala de dissecação que acabariam por provocar sua morte em poucas semanas. Ele ainda era bastante jovem, tinha menos de 47 anos. O livro em si (que é uma monografia de final de curso afinal de contas) é mesmo bem escrito. Lê-se facilmente quase de uma vez só, dominados que somos pela prosa de Céline. Don Schelp realmente deu mesmo um belo presente para os jovens médicos santamarienses formados pela UFSM na turma de 2008. [início 20/11/2008 - fim 21/11/2008]
A vida e a obra de Semmelweis, Louis-Ferdinand Céline, tradução de Rosa Freire d’Aguiar, editora Companhia das letras (1a. edição) 1998, brochura 11x15,5 147págs. ISBN: 85-7164-752-6

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

princesas

Em um lugar inusitado, o blog do blogueiro santista José Roberto Torero, li uma resenha deste livro e decidi comprá-lo para presentear Clara, minha sobrinha jovenzinha. O livro chegou e é mesmo belíssimo. As ilustrações impactam, deixam o leitor maravilhado, mas o texto também tem seu valor. Não há nada de supérfluo no livro, todo o espaço, quase tudo nele, torna-se material para leitura: as margens, o índice, o guia de leitura, o teste, a apresentação, a bibliografia, os anexos, tudo vem com um tratamento muito especial, como se fosse uma enciclopédia sobre princesas e seu habitat. Lê-se com um sorriso armado no rosto, tomados que somos pelo tom poético e pelo humor franco, mas o livro sabe ser irônico e leva o leitor de qualquer idade para seu mundo construído sem fazê-lo esquecer da nossa condição de vivente. Minha princesa favorita pertence a linhagem da " Efêmera da china", mas a princesa "Amnésia", que nos ensina que devemos "não esquecer de pensar em lembrar de não esquecer" também me encanta, da mesma forma que a princesa "Kushkah", aquela que por onde passa não deixa mais a grama brotar, uma senhorita que não perde uma boa briga. É mesmo um belo livro para se ler e presentear meninas e meninos sem se preocupar com a idade do sujeito. Dueña Clara já anda a lê-lo (com a contumaz ajuda de dueña Angela, senhora de muitos predicados). Uma coisa curiosa me faz torcer os bigodes: o livro foi impresso na China. Como será que neste mundo globalizado sai mesmo mais barato imprimir em português um livro destes lá longe na China e importá-lo ao Brasil? [início / fim 21/11/2008]
"Princesas, esquecidas ou desconhecidas...", Philippe Lechermeier, ilustrações de Rébecca Dautrémer, tradução de Luciano Vieira Machado, Editora Moderna (Salamandra), (1a. edição) 2008, brochura 27,5x30, 91 págs. ISBN: 978-85-16-05766-4

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

cómo ser europeos

"Cómo ser europeos" reune oito ensaios de Cees Nooteboom que foram produzidos originalmente para propósitos diferentes. Alguns foram lidos em conferências, outros publicados em jornais, uns poucos para consumo pessoal do autor. Em comum entre eles está a preocupação em entender e acompanhar o processo de unificação pelo qual passou a Europa na segunda metade do século XX, a tentativa de criar uma comunidade e/ou identidade européia singular. Os mais antigos são de 1988, antes da queda do muro de Berlin e da derrocada da união soviética; os mais recentes de 1993, ainda com os ecos daquela transição retumbando nos corações e mentes dos europeus. Nooteboom sabe ler com precisão os muitos desafios que a idéia de unificação européia tem (e ainda os têm, mesmo agora, neste início de século XXI, passados 15 ou 20 anos da publicação original dos ensaios). Isto torna os ensaios ainda atuais, pois há muito artificialismo na idéia de uma Europa unida. Como se pode unificar plenamente 500 milhões de pessoas? Como se pode universalisar neste conjunto histórias, tradições, comportamentos e projetos de futuro distintos? Ora se apoiando em fábulas e na mitologia, ora refletindo filosoficamente, ora apenas repercutindo com curiosidade as notícias mais importantes dos jornais da época, Nooteboom adverte-nos com elegância e sabedoria sobre os riscos que este projeto intrinsicamente tem. Aqueles de nós que apenas conhecemos a superfície da cultura e história europeia, turista eventuais e banais que somos, podemos aprender um tanto com este holandês errante, este viajante incomum. Boa leitura. [início 19/11/2008 - fim 29/11/2008]
"Cómo ser europeos", Cees Nooteboom, tradução de Anne-Hélène Suárez Girard, Ediciones Siruela, (2a. edição) 2006, brochura 11x15, 126 págs. ISBN: 978-84-78344-295-9