quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

castelo branco

Se há uma coisa que faz a alma um grande bem é a leitura de um bom e honesto romance. Comprei este livro no sábado, na CESMA, meio preocupado até, pois estava com outros projetos já adiantados e não queria me dispersar muito. O Pamuk eu conheço do Neve, do Vermelho, do Negro, do Istambul (não terminei ainda estes dois últimos, fazer o quê). Este é o livro de estréia dele, escrito no final da década de 1970, quando ele tinha pouco mais de 25 anos. Os grandes temas dos romances, caros a muitos, estão lá: um manuscrito de origem duvidosa; o duplo; a busca de conhecimento; o jogo de espelhos; o poder dos sonhos; a religião e a ciência; o autor que conversa explicitamente com o leitor através do texto. Tentei me convencer de algumas metáforas: o contato entre religiões; o próprio Pamuk sendo o personagem dividido. Preciso pensar um tanto mais nisto. O que me impressiona neste sujeito dado a controvérsias (conheço muitos que não gostaram nem do Neve, nem de Meu Nome é Vermelho, apesar do meu repetido entusiasmo) é a capacidade de contar uma boa história a primeira vista bastante simples. A ação se passa no século 17, em Istambul, na órbita de paxás, vizires e sultões, mas também ao redor da gente simples dos bairros periféricos, das cidades pequenas do interior. Há um jogo mental entre os dois personagens principais, cada um tentando entender o outro e emular toda a vida do outro, como se (na metáfora do próprio Pamuk) nosso cérebro fosse formado de infinitas gavetas cujos conteúdos pudessem ser intercambiados entre os seres. Gostaria de levantar um outro ponto. Quando da publicação de Neve se falou um bocado sobre o fato da tradução ter sido feita a partir de uma tradução inglesa e não do apartir do original turco. Neste "Castelo Branco" a tradução é dita ter sido feita a partir de traduções francesa e inglesa. Acho que este fenômeno deve acontecer com outras línguas. De qualquer forma recomendo este livro sem a menor reserva.
"O Castelo Branco", Orhan Pamuk, tradução de Sérgio Flaskman, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-359-1117-6

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