domingo, 14 de outubro de 2007

futuro

Alaor Chaves é um dos físicos brasileiros mais brilhantes de sua geração. Atual presidente da Sociedade Brasileira de Física é também autor de excelentes livros texto que são largamente utilizados nas universidades brasileiras em cursos de graduação de física e engenharia. Preocupado com o problema energético publicou recentemente um romance de ficção onde discute este tema. O romance é Nanocarbon, publicado pela Editorial LAB, selo da editora livros técnicos e científicos, LTC, muito conhecida no meio científico universitário. O livro é fácil de ler, o tom é francamente de divulgação científica, em que pese o esforço de Alaor Chaves em introduzir outros elementos ficcionais na trama. Toda a ação do livro se dá em um futuro não muito distante nos EUA. Um jovem físico desde seu curso de graduação demonstra um talento não usual em diferentes áreas da física, química e engenharia. Antes mesmo de terminar seu doutoramento tem uma idéia seminal que revoluciona o mercado mundial de energia e, com o dinheiro de um grande investidor, funda uma empresa que em um curto período de tempo, torna-se detentora do monopólio do fornecimento mundial de energia baseada em hidrogênio. A partir daí o tom é de um romance policial. O livro começa com um atentado terrorista em uma das instalações da empresa deste sujeito. Nos primeiros capítulos há uma fração maior daquilo que eu acredito ser o maior mérito do livro: a inclusão de conceitos importantes da ciência em uma linguagem bastante acessível sem a perda do ritmo da leitura e do desenvolvimento da trama. Mesmo correndo o risco de se tornar professoral demais Alaor Chaves consegue manter o interesse nestes temas espinhosos. Na segunda metade do livro estas definições e conceitos diminuem bastante pois o interesse se desloca em descobrir o autor do atentado e alcançar o desfecho da trama. De qualquer forma eu acho que o final do livro não ficou bom. Nos últimos capítulos o desfecho da trama foi muito acelerado e talvez em função disto eu não tenha entendido como uma pessoa que passou por tantas atribulações possa relaxar tanto a ponto de não se preocupar com algum tipo de vingança. Mas estamos no mundo da ficção e o Alaor é o senhor do destino dos personagens que criou e sabe para onde eles devem ir. Como toda a ação se passa nos EUA eu incluiria também algum jornalista na trama, para o bem da verossimilhança, pois me parece que seria impossível tudo o que acontece no livro se dar sem alguma cobertura feroz da mídia, mesmo se estamos falando de um futuro distante. Há pequenos truques literários na trama que fragilizam o texto, como um em que o personagem principal (logo após sofrer um atentado e ter se submetido a uma cirurgia plástica) telefona para meu antagonista (e provável mandante de um atentado) informando-lhe que estava vivo, tinha alterado a voz e estava com o rosto diferente. Qual a vantagem prática (mesmo para a trama literária) de dar estas informações ao sujeito? Como o livro se passa nos EUA há vários termos que me parecem brasileiros demais (pescou, detonou, tal e tal, gostosa, bagos, etc) que não se ambientam bem no cenário americano. Mas estou seguro que este é um livro que merece ser lido por todo aquele que gosta de um romance de ficção honesto. Se o livro fosse traduzido para o inglês e publicado nos EUA provavelmente faria algum sucesso. O tema é realmente atual e Alaor sabe como poucos as muitas implicações tecnológicas dos conceitos e idéias científicas básicas que incluiu na trama. Achei o livro bem escrito e como proposta editorial de fato interessante. Recomendo o livro sem medo.
Nanocarbon, Alaor Chaves, editora LTC (editorial LAB), 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-216-1560-6

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